Como os casos de gravidez por estupro afetam as mulheres de forma coletiva 20r1a

Quando um caso de estupro ganha repercussão, como os da menina de 11 anos grávida e da atriz Klara Castanho, mulheres sofrem de forma coletiva

As últimas semanas foram de notícias que mais pareceram socos no estômago, em especial para as mulheres. Dois casos de estupro e gravidez a partir dessa violência tiveram ampla repercussão na mídia.

Uma menina de 11 anos precisou ter o episódio de estupro revelado para que tivesse o ao aborto legal. Já a atriz Klara Castanho foi obrigada a expor uma série de abusos: tanto do homem que a estuprou quanto dos profissionais que deveriam assegurar o sigilo médico e judicial do processo de entrega à adoção legal. Lembrando que esse processo é direito de toda mulher, vítima ou não de violência tem direito.

Casos recentes de gestações por estupro causam dores coletivas nas mulheres – Foto: Reprodução/InternetCasos recentes de gestações por estupro causam dores coletivas nas mulheres – Foto: Reprodução/Internet

Esses dois casos escancaram o estupro, crime que uma mulher foi vítima a cada dez minutos no Brasil em 2021 (dado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública), número 3,7% maior que em 2020.

Os números escancaram também que, além da violência cometida por um homem – que talvez a gente conheça e nossas famílias e amigos confiem -, podemos enfrentar uma série de abusos por profissionais que deveriam assegurar nossos direitos.

Qual o rosto dos estupradores? 2v2mp

Fernanda Casola, psicóloga e pós-graduanda em Psicologia Social, atua nos setores de segurança pública e assistência social em Santa Catarina desde 2019. Ela explica que o medo da mulher começa por causa do foco na vítima (o que ela fez? Como se comportou?), e não nos agressores e nos motivos para essas violências se perpetuarem.

“Ser mulher causa insegurança. Acredito que nesses dois casos em especial aumenta ainda mais o medo das repercussões a partir da denúncia. O foco sempre está na vítima, no que ela fez, na roupa que vestiu, o que ela fez para provocar aquela violência que sofreu, ou até os direitos que ela reivindicou. Quando na verdade teríamos que problematizar a violência e por que ela continua acontecendo”.

As violências às quais a atriz e a menina foram expostas causam dores coletivas, como explica Fernanda. “Quando uma mulher é violada, o impacto é em todas nós. Quando pensamos em um evento de violência de gênero, temos que levar em conta todo aspecto estrutural que acompanha ele. Toda situação de violência gera um impacto social, podendo ser inclusive gatilho para outras pessoas que já tenham sido vítimas de algum tipo de violência”.

Fernanda Casola é psicóloga e pós-graduanda em Psicologia Social. Ela atua nos setores de segurança pública e assistência social desde 2019 – Foto: Arquivo pessoa/ReproduçãoFernanda Casola é psicóloga e pós-graduanda em Psicologia Social. Ela atua nos setores de segurança pública e assistência social desde 2019 – Foto: Arquivo pessoa/Reprodução

Esse impacto traumático pode acarretar consequências médicas, psicológicas e sociais. Dentre esses danos Fernanda cita transtorno pós-traumático, depressão, ansiedade, entre outras psicopatologias que variam e que são questões muito individuais. Cada pessoa possui uma forma diferente de enfrentamento.

“Isso é todo um aspecto estrutural, uma questão de gênero. Existe um desamparo imenso para com essas vítimas. Muitas delas não possuem rede de apoio, am por situações de ameaça ou até medo do julgamento social por terem sido vítimas de violência”, destaca a psicóloga.

Políticas públicas para quem é vítima 244d5k

As principais políticas públicas no Brasil (que ainda se mostram limitadas no combate efetivo na violência contra mulher) são: as DPCAMIs (Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso) e os Creas (Centros de Referência Especializada da Assistência Social), que oferecem atendimentos de orientação e e às vítimas e  famílias.

“É importante que a gente combata todos os dias esses discursos que culpabilizam as vítimas. Toda pessoa merece ter todos os seus direitos garantidos e protegidos, sem medo de reivindicá-los”, finaliza a psicóloga.

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