Quando entrei na sala de cinema para assistir “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” com certeza não estava preparada para a história que estava prestes a ver. Claro, tinha expectativas derivadas das séries “WandaVision” e “What If”, mas elas não chegaram perto do que Sam Raimi proporcionou aos fãs da franquia.
Em um embalo místico entre mundos ainda não explorado nos filmes dos vingadores, a narrativa do longa-metragem é épica e mostra o limiar entre o bem o mal, tanto para Stephen Strange, que enfrenta diferentes versões de si mesmo no multiverso, quanto para Wanda Maximoff, que busca sua tão sonhada família.

O embate entre os dois é um dos mais poderosos já vistos no MCU. Com jogo de luzes e cores, os produtores do filme não mediram esforços para tornar este um novo marco na Marvel Studios. Mas qual é, de fato, o limite para o poder?
Em uma incessante busca por uma realidade onde seus sonhos não tivessem sido destruídos, e ela fosse mãe, Wanda toma posse do Darkhold, o livro de feitiçaria mais perigoso que já houve. Suas páginas corrompem a alma de quem o lê, levando-os ao vórtice da loucura.
Mais tarde, o mesmo livro viria a ser usado por Doctor Strange, mas é claro que esse pequeno ponto da narrativa, essencial para o filme, ficará para outra resenha, quando a continuação dos longas-metragens de “Doutor Estranho” forem lançadas.
Isso porque o texto de hoje tem como objetivo focar no que foi realizado, perseguido, destruído, e reconstruído por Wanda.
A Feiticeira Escarlate 226y2w
Assumindo o antagonismo do filme, temos pela primeira vez no MCU a Feiticeira Escarlate em seus plenos poderes. Correndo atrás dos dotes de America Chavez, uma super-heroína capaz de conjurar portais que viajam pelo multiverso, Wanda tem apenas um objetivo: recuperar quem ela acreditou serem seus filhos na utopia promovida em “WandaVision”.

Para isso, a feiticeira não mediu esforços. Além de dizimar boa parte de Kamar-Taj, a mulher também representou cenas que beiravam o horror durante o longa-metragem. Perdida em seus próprios pensamentos e reclusa em suas emoções, Maximoff não via obstáculos em seu caminho.
É claro que todo o arco do filme leva a mulher até a sua redenção. Entretanto, o ponto crucial que fica para trás é a taxação da personagem como “louca” por conta de suas ações. Com certeza não é certo promover a morte como um meio para o seu fim, mas, como dito pela própria personagem, por quê quando homens fazem isso tudo fica bem?
Tal estigma ainda advém dos antigos fãs de quadrinhos, que viam apenas super-heróis sendo a força máxima e a voz da razão. Os tempos, é claro, mudaram, e Sam Raimi soube aproveitar com maestria o gancho na história. Wanda, desde “Vingadores: Era de Ultron” – filme de 2015 – sofre com perdas familiares.
Primeiro, precisou separar-se de seu irmão gêmeo para vê-lo ser morto posteriormente. Já em “Vingadores: Guerra Infinita”, a personagem precisou matar seu parceiro para dar fim ao temido Thanos. As séries de traumas pelos quais ela ou já é motivo suficiente para entender o porquê de seus atos serem cometidos dessa forma: ninguém teve piedade dela, então, ela também não teria com os outros.

Por mais errado que isso seja, é com esse fio condutor que Wanda age. E é ele também que define o limite para suas ações. A feiticeira não é uma vilã, por mais que tenha incorporado os pensamentos de uma. E é nessa linha bamba que ela consegue perceber seus erros e limitar-se a dar um fim à tragédia que causou.
O amor de uma mãe é de fato o mais poderoso que existe. Mas também é o que mais impõem limites, às vezes até em si mesmo, como ocorre com a personagem e suas cenas finais em “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”.
Não há dúvidas de que Wanda é uma das mais fortes e poderosas mulheres do MCU, e que foi sua história que movimentou todo o longa-metragem, abrindo possibilidades para outras narrativas futuras. Mas o mesmo filme também exibiu, de forma clara, que há limites para tudo, e que não é possível ultraá-los uma vez reconhecidos.