Para os que acreditam em signos, Luise não poderia ter nascido em outra data. Leonina, do dia 05 de agosto de 1929, ela traz o brilho intenso que só quem é regido pelo signo de fogo possui. Formadora de opinião, dona de uma elegância impecável que cultiva há 93 anos e cheia de espontaneidade, é claro.

Para lembrar cada detalhe dos momentos em que vivia, Luise decidiu escrever sobre seu dia a dia em 1946, quando tinha 17 anos. Desde então, não parou e tem guardado mais de 50 cadernos. “É para ter recordações de tempos que a gente não lembra mais”, explica ela.
Com a irmã Hanni, se tornaram uma das primeiras vendedoras viajantes do Rio Grande do Sul e para incredulidade de muitos, aprendeu até a dirigir.

Era uma noite de segunda-feira, 8 de fevereiro de 1960, quando Luise pegou seu diário e escreveu: “Os homens pensam que a mulher é inferior a eles, que só serve para criar filhos e fazer serviço de casa. Há gente que não compreende uma camaradagem e luta em comum”. Uma opinião que era preciso coragem para expressar na época.
A verdade é que Luise vivia na contramão do que era esperado. O ideal era um casamento aos 18 anos, ela casou com quase 30. Já corria o risco de “ficar para titia” ou até ser conhecida como uma “mulher encalhada”. Que bobeira! E quando se trata de relacionamentos, ela não pensa duas vezes: “Não casem por interesse e sim por amor. A vida é muito longa e casar por interesse é muito monótono”, aconselha.

Luise se apaixonou pelo seu motorista, Telmo Dias, que era quatro anos mais novo do que ela. Em 1959 eles se casaram. Ela já era dona de um bom patrimônio, mas Telmo também embarcou nesses sonhos e ajudou a esposa a fazer os negócios prosperarem. Apostaram em um comércio atacadista com especialidades farmacêuticas, perfumarias e produtos veterinários. Telmo Dias faleceu em 1989 e as atividades do comércio foram encerradas em 1995.
Agora, a viúva Luise faz poucas viagens e a mais tempo em Florianópolis, onde mora com a filha Vera. “Gosto muito de apreciar as paisagens maravilhosas que tenho aqui na casa da Vera. Muitos bichinhos ando por aqui, no Campeche”, conta ela.

De vez em quando, ela ainda pega a estrada para Santa Rosa (RS), Aracaju (SE), ou para São Borja, no interior gaúcho. Vai receber o carinho de seus filhos ou de um dos 10 netos, fruto de todas as histórias vividas que estão em seus diários. E por falar em história, questionada se alguma das páginas ela preferia não ler mais, ela responde com rapidez: “Eu leria tudo. Tudo que escrevi é verídico e interessante”.
“Diário de Luise”: livro conta a biografia de uma das pioneiras como vendedora viajante 6d4t4l

Graças aos seus escritos, parte de suas histórias foi resgatada e transformada em livro, em “Diário de Luise – uma mulher além do seu tempo”, do jornalista catarinense Ricardo Medeiros. A obra tem o selo da Dois por Quatro Editora.

Esse é o 11º do autor, que lançou recentemente “Uda Gonzaga: a primeira-dama do Morro da Caixa” e “Quatro Mulheres”.